sábado, 18 de junho de 2011

Chapada Diamantina - Parte III


Circuito Mixila x Vinte Um

      Terceira parte da aventura solo pela Chapada Diamantina, realizada entre os dias 7 de janeiro e 10 de fevereiro de 2011. A navegação pelas trilhas foi feita utilizando apenas o mapa “trilhas e caminhos” e bússola. 

Dia 16: Cachoeira do Sossego.


      No dia anterior o tempo havia fechado, e desde então a ameaça de chuva era uma constante. Essa manhã não foi diferente, amanheceu com chuva fina e grande nebulosidade. Ainda assim, preparei tudo para a trilha, e um pouco mais tarde o sol apareceu. Mais uma vez, fui perguntando até encontrar o início da trilha. Por volta de 10h iniciei a caminhada, que tem sua parte inicial calçada por pedras e ladeada por cercas. No caminho passei por um quiosque, onde peguei mais algumas informações. Continuando “reto” pela trilha, chega-se ao Ribeirão do Meio, para ir para o Sossego deve-se pegar uma bifurcação a direita. Após tomar a direita e andar uns 3mim, resolvi voltar e conhecer o Ribeirão do Meio primeiro. Quando cheguei na bifurcação novamente, tinha uma mulher urinando exatamente na bifurcação, isso me deixou irritado, não custava nada andar uns 10m pra fora da trilha, evitando o mal cheiro naquele ponto, além do constrangimento.

      As 10:30h já estava no Ribeirão do Meio, é um lugar agradável, com um “escorrega” natural e um poço de tamanho razoável. Por ser perto, tem elementos “farofísticos”, como tiozinhos vendendo “churrasquim de gato” e cerveja. Bati algumas fotos e já segui em direção a Sossego. Como não queria voltar até a bifurcação, segui uma trilha “alternativa” na direção que eu desejava. Essa primeira parte da trilha é mais afastada do rio e em alguns trechos é possível ver grande parte do vale. Depois de 40mim por essa trilha, cheguei numa barraquinha abandonada na margem do rio, a partir daí segui alternando entre pula-pedras e trilhas nas margens, ora pela direita ora pela esquerda. O leito do rio tem muitas pedras grandes, facilitando assim andar pelo mesmo. O curioso é que algumas dessas pedras possuem furos circulares na horizontal, atravessando de um lado para o outro. Em um dos trechos, na margem esquerda, tem uma bifurcação de onde sai uma trilha perpendicular ao rio, fiquei curioso quanto a trilha mas segui em frente. Essa parte é bem íngreme e deve-se ficar atento ao ponto de voltar ao rio, já que a trilha segue direto. Mais a frente as margens se inclinam ainda mais, tornando-se paredões que dão início a um canyon, essa parte final é a mais bonita, já que os paredões são estratificados e com a vegetação saindo pelas fendas.

Escorrega, no Ribeirão do Meio.


Canyon, já próximo a Sossego.

      Finalmente, as 12:40h, cheguei na bela cachoeira do Sossego, e realmente valeu a pena. O poço é excelente e o canyon ornamenta a queda, a deixando maravilhosa. Já havia um grupo de pessoas por lá, e estavam com um guia. Perguntei ao guia sobre a tal trilha que subia a encosta, e segundo ele “não leva a lugar algum”. Fiquei por lá um bom tempo, nadei no poço, fiz um lanche e descansei um pouco. A volta foi tranquila, e bem mais rápida. Essa trilha não é simples, e não recomendo a iniciantes, apesar de o risco de se perder ser quase nulo, já que tem uma barraquinha marcando a “saída” do rio.

Cachoeira do Sossego.

      Enquanto finalizava a trilha, já chegando em Lençóis, vi o céu negro, com rajadas de luz e estrondos, tava pra desabar. Apertei o passo e cheguei ao camping pouco antes de começar a chover. Após um banho e uma refeição, comecei a planejar o roteiro do dia seguinte. Ainda tinha muita coisa interessante a se visitar, porém eram lugares distantes e que exigiam pernoites, como as cachoeiras Mixila, Lajes, Capivarí, Vinte Um e Fundão. Bem, as três primeiras ficam próximas entre si, no entanto, muuuito longe das duas últimas, além de trilha distinta. Poderia fazer dois “ataques” com pernoite, mas decidi fazer algo mais interessante, visitaria as três primeiras e seguiria de lá para o início do canyon da Vinte Um, passando pela cachoeira Palmital. Pra quem não sabe, o canyon da Vinte Um começa cerca de 2,5km ao norte da cachoeira da Fumaça, ou seja, eu estaria muito mais perto do Vale do Capão do que de Lençóis. 

Esboço grosseiro do circuito. ps: meramente ilustrativo, não use como referência para trilhas.

      O mais legal desse circuito eram as incertezas, como chegar na mixila? E na Lajes? E da Capivarí até a Palmital? E essa trilha pela direita do canyon da Fumaça, será que existe ainda? E a pior de todas, será que tem como descer da parte alta da Vinte Um para a parte baixa? E se for igual a Fumaça, que as duas trilhas se conectam no mapa, mas na verdade são descontínuas. Além disso, tinha aquele pequeno detalhe, não conhecia nada de lá. Mas na verdade, era essa certeza do incerto que me motivava, o desafio era o meu combustível e eu queria ver no que daria. E por fim, precisava estimar o tempo pra concluir tudo, 4 dias, foi minha estimativa. Depois do roteiro definido, fui as compras e abasteci minha mochila, sempre com comida reserva para eventuais emergências. Voltei para o camping, acertei minha minhas diárias e fui dormir. 

Dia 17: Bodei e subi a serra do Bode.

      Depois de todos os preparativos do dia anterior, simplesmente amanheceu chovendo. A neblina encobria toda a cidade e começar a trilha assim não dava. Fiquei lá pelo camping, tomei café e esperei. 

      Por volta de 10h a chuva parou, e a partir daí o tempo foi melhorando, o sol apareceu e a neblina dissipou. Já eram quase 12h, tinha passado metade do dia. Mas nem tudo estava perdido, redistribui os “set-points” da trilha, ajustando para 3 dias e meio, joguei a mochila nas costas, e depois de uma série de perguntas, às 12hs eu estava no início da estrada do garimpo.

      A estrada segue cortando a mata, no início é boa, mas vai piorando a medida que se avança, ficando restrita apenas a 4x4. Existem algumas encruzilhadas e deve-se ficar atento pra não pegar o caminho errado. Após 40mim de caminhada, cheguei no Ribeirão do Meio, eu estava com receio de não ser possível atravessá-lo, já que tinha chovido durante a noite. Mas felizmente não tive problema algum, tirei as botas e atravessei com água até o meio das coxas.

Atravessando o Ribeirão do Meio.

      Após atravessar, continuei pela estrada e quando estava próximo do rio Capivara, passou uma 4x4, como o objetivo não era ficar andando por estradas, pedi uma carona. Com isso evitei de atravessar o rio pé, que estava um pouco mais cheio que o Ribeirão do Meio. O rapaz da 4x4 estava indo buscar um grupo que voltava da cachoeira Mixila. Segundo ele, o grupo havia desistido de subir até a Mixila, pois o rio estava muito cheio e não era possível chegar até a cachoeira.

      O ponto final da carona foi nas mangueiras, onde inicia-se a trilha para a Serra do Bode. Como estava na época, tinha muita manga madura por lá, e como eu gosto muito de manga, resolvi fazer a feira, hahahah. Colhi umas 15 magas e coloquei na mochila, um grande incremento de peso, mas tudo bem, se incomodasse eu tinha uma forma muito prática de ficar mais leve.

      Enquanto o grupo chegava do Mixila, eu iniciava a subida da serra, as 14:30h. A serra do Bode é extremamente íngreme e poderia facilmente ser chamada de “rampa do bode”, já que tem um longo lajeado de inclinação constante. No caminho passei por tocas e várias fendas de garimpo. Mais acima encontrei um pequeno córrego artificial, que descia suavemente quase que acompanhando uma curva de nível. A Serra do Bode já tinha ficado para trás, e esse córrego me levou até o rio Piçarras. A partir daí, surgia uma bifurcação atrás da outra, segui por uma trilha durante um tempo. Achei que estava indo para o lado errado, então voltei e conferi (não me perguntem o que eu conferi), mas acabei seguindo por lá mesmo. 

Córrego artificial.

     Se você não conhece o lugar, bifurcações são sinônimos de dúvida, análise, perca de tempo e comumente, erros. Um emaranhado de bifurcações definitivamente é a representação plena do caos, e dificilmente sai-se ileso.

        Por volta da 17h cheguei em uma grande toca, com porta e tudo (que alguns dias depois descobri que era conhecida como “Toca da Mangueira”). Montei minha barraca e usei o resto do tempo para sondar a região. Encontrei uma trilha que leva ao rio Piçarras e outra para uma tubulação, remanescente dos tempos do garimpo, de onde supostamente me levaria até a cachoeira Mixila. Após 
um banho no Piçarras, fiz o jantar e fui dormir em seguida.

Acampado na Toca das Mangueiras.

Dia 18: A procura das cachus Mixila e Lajes.

      Segundo meu cronograma, nesse dia eu visitaria as cachoeiras Mixila e Lajes. Usando a Toca da Mangueira com base, faria dois ataques. O tempo estava fechado, mas tinha esperança que melhorasse ao longo do dia.

      Após o café da manhã, segui em direção a tubulação, seguindo-a até o fim. A partir desse ponto, segui a trilha numa pequena descida íngreme até o fundo de uma vala, que corria um pouco de água. Foi nessa hora que desabou uma chuva torrencial, me deixando completamente molhado. Ainda continuei a trilha esperando que a chuva pudesse passar rápido, mas isso não ocorreu. Na verdade, o problema era que no dia anterior aquele grupo havia retornado sem ver a cachoeira devido ao nível da água, e essa chuva com certeza faria o nível subir novamente. Diante disso, achei que não valia a pena continuar e voltei até a toca. Fiquei um pouco por lá, a chuva passou, e decidi ir até a cachoeira Capivarí. Fui seguindo na direção da cachoeira e pegando as bifurcações intuitivamente.

      As 9:30h cheguei ao topo da Capivarí, de lá é possível ver a borda da serra do Veneno e o paredão onde fica a toca da Onça. Atravessei para a margem esquerda, onde tem início a trilha que leva para a parte baixa. Após descer por aquela piramba encharcada, cheguei ao leito do rio, o qual estava muito cheio. Bati algumas fotos e subi novamente.

Capivari vita de baixo.

      De volta a parte alta, segui pela tubulação novamente, rumo a Mixila, queria ver a situação de perto. No caminho ouvi algumas vozes, e um pouco a frente encontrei dois rapazes. Segundo eles, tinham acabado de voltar da Mixila, e a água estava no limite. Eles estavam acampado na trilha, um pouco mais acima, e tinham descido procurando o caminho de volta para Lençóis (essa parte eu não entendi muito bem). Expliquei o caminho de volta, e eles resolveram voltar até o ponto onde estavam os outros dois membros do grupo. 

      Eles eram quatro e estavam em duas barracas pequenas, sendo uma delas a Falcon2. Curiosamente a outra barraca estava de cabeça para baixo. Foi aí que me explicaram que durante a noite choveu e a outra barraca inundou, por isso a viraram, colocaram as mochilas e dormiram os QUATRO dentro da barraca Falcon. Imagina só que situação, essa barraca mal cabe duas pessoas, pra caber os quatro só se for de conchinha, kkkkkkk. O importante era que todos estavam bem e preparavam um almoço sensacional que me deu água na boca. 

      Segui adiante, adentrando o canyon do Capivarí. Essa parte foi incrível, pois devido a chuva as laterais do canyon se tornaram cachoeiras, e com o sol sendo refletido na água formou-se um espetáculo de luz e cores. Chegando no primeiro poço, comecei a passar pela lateral com a água até cintura. Fiquei com receio de escorregar e molhar a câmera, por isso, infelizmente tive que deixá-la para trás. Passando por essa seqüência de poços chega-se ao ponto crítico, que é primeira queda. O melhor lugar pra subir é bem ao lado da água, mas quando tem muita água isso fica complicado. Logo de início já vi que dava pra subir, mas fiquei algum tempo analisando como eu desceria (nada de “pra baixo todo santo ajuda” hahahah). Como estava sozinho, deveria ter certeza que poderia descer sem problemas. 

Nuvem derramando pela lateral do canyon Capivarí.

      Após subir a queda, segui por um lajeado até uma espécie de salão onde tem um grande poço ovalado. Tentei passar ladeando por um lado, pelo outro e nada. Nesse caso, tirei as botas e atravessei nadando no centro do poço. Do outro lado, segui pela parte final do canyon, finalmente chegando a famigerada cachoeira Mixila. A cachoeira é realmente muito bonita e parece uma miniatura do Buracão. Como estava com muita água, a pressão da queda gerava uma espécie de chuva torrencial horizontal, que gelava até ossos. Por isso não fiquei muito tempo por lá, além do mais, com o tempo instável, era arriscado ficar dentro do canyon. Voltei com cuidado, e desci pela queda sem maiores problemas. Não encontrei o grupo que estava acampado no caminho, provavelmente foram embora.

      Uma vez mais na tubulação, fui a procura da cachoeira das Lajes. Já era tarde, por volta das 16h, quando comecei o ataque. Segui a trilha, que após bifurcar duas ou três vezes me levou ao rio Piçarras. Do outro lado do rio, encontrei uma toca enorme (que dias depois descobri que era a toca do Jailson). 

      Alguns meses antes, eu tinha lido o relato do Peter Toffe, do fórum Mochileiros.com, mas já tinha esquecido de quase tudo, e ainda me confundi com o que lembrava. Na minha memória confusa eu sabia que tinha que passar em duas tocas, dessa forma, achei que essa era segunda, enquanto a das Mangueiras era a primeira. Acabei seguindo pelo rio a procura da cachoeira ou trilha.

      Depois de perder um bom tempo “varando rio”, cheguei a conclusão que, definitivamente, não era por ali. Voltei até a toca e procurei alguma trilha, encontrei a trilha atrás da toca, foi aí que me lembrei dessa parte do relato. Mais a frente cheguei a um lajeado, quase como uma rampa. Segui subindo por ele, mas Já passava de 17:30h e meu tempo limite já tinha estourado, além disso, chegar na cachoeira ao escurecer não valeria a pena. Voltei a partir desse ponto, e cheguei a barraca nos últimos raios de luz.

Dia 19: Rumo à Palmital

      No dia anterior eu não consegui chegar até a cachoeira das Lajes, no entanto, já havia visitado a cachoeira Capivarí, além do mais, agora eu sabia exatamente o caminho até a Lajes, por isso resolvi fazer mais um ataque, com o prazo máximo de 3h, pra ir e voltar. 

      Como sempre, nunca consigo sair cedo, e depois de muita enrolação e o café da manhã, as 8h iniciei o ataque. Quando estava passando pelo lajeado depois da toca de Jailson, chuva!! Mais uma vez, encharcado dos pés a cabeça. As 9:10h cheguei até cachoeira das lajes. Na toca existia algumas peneiras e outros materiais de garimpo. Fiquei cerca de 40mim por lá, fiz um lanche e voltei, chegando dentro prazo.

Cachoeira das Lajes
Toca das Lajes. Note as peneiras dentro da toca.

      De volta a Toca das Mangueiras, desmontei a barraca e arrumei a mochila. Depois de mais enrolação, as 12:30h minha mochila estava pronta e pude, enfim, seguir adiante. 

      A trilha que desce para o rio Capivara, segue pela direita do rio Capivarí, na parte alta. No caminho passei no mirante da Capivarí, de onde pude ter uma bela visão da cachoeira. Esse início da trilha é bem confuso, com algumas bifurcações enganosas. Perdi algum tempo antes de achar a trilha correta. O trecho final da descida é bem íngreme, e mais uma vez os joelhos são bem requisitados. 

Destino: rio entre os dois morros da esquerda.

      Chegando à margem do rio, fiz uma parada para comer, e seguida fui procurar um bom lugar para atravessar. Foi complicado, já que o rio estava bem cheio, acabei tendo que enfiar o pé numa corredeira, mas sem maiores problemas. Logo a frente atravessei o rio Capivara e iniciei a subida encosta acima. Pouco antes da Palmital, encontrei a tradicional trilha para a Fumaça, chegando à área de camping por volta das 16:30h.

      A área de camping da Palmital é bem ampla, e cabe várias barracas. Como ainda tinha algum tempo, dei uma explorada ao redor. Primeiro desci um pouco, para fotografar a seqüência de quedas do rio, inclusive, achei que essas quedas eram a cachoeira da Palmital. Depois segui no sentido contrário, subindo o rio, onde encontrei a cachoeira verdadeira. 

Cachoeira do Palmital.

      O lado direito da cachoeira é uma piramba úmida, cheia de pedras soltas, troncos e cipós. Tudo muito liso, perfeito para escorregões, mas que é possível subir. Como vi alguns rastros no inicio, subi a procura de alguma trilha, já pensando no dia seguinte. Após subir mais que o dobro da altura da queda, me deparei com um paredão. Seguindo o paredão encontrei a continuação do rastro, que levaria até a margem do rio. Como já estava próximo de 18h, voltei à barraca.

      Durante a noite fiquei pensando se voltaria pela trilha da Fumaça a procura da trilha “principal” ou se seguiria aquele rastro. Acabei decidindo me aventurar pelo rastro, supondo que em algum momento eu cruzaria com a trilha principal, afinal, nada como uma incerteza para apimentar a vida.

Dia 20: Cachoeiras Vinte Um e Fundão, o dia interminável.

      As 8h, depois de todos os tramites pré-trilha, segui rio acima em direção a cachoeira. Subir a piramba com a cargueira foi bem mais oneroso, já que não foi possível passar exatamente no mesmo lugar. 

      Chegando na margem do rio, desci um pouco para tentar chegar ao topo da Palmital, no entanto, existe uma outra cachoeira (Palmital de Cima?), que tem uma queda bem maior e em vários degraus. Como tava complicado descer e ainda tinha muito chão pela frente, voltei subindo o rio a procura da trilha.

      Andar pela margem era desgastante, já que a vegetação estava bem fechada. E em um dado ponto eu encontrei a continuação do rastro, segui por ele, pois estava bem mais fácil. Acredito que o rastro tenha sido feito por um grupo pequeno, duas ou três pessoas. Ao contrário do que eu gostaria, a “trilha” foi seguindo em direção a encosta esquerda, subindo cada vez mais, e passando em lugares cada vez mais complicados. Ao chegar ao topo, surgiu uma sequência de pequenos lajeados intercalados com profundas fendas, esse trecho exigiu muita atenção para não perder o rastro e vários saltos a distância.

Vale do rio Palmital ficando para trás.

      Seguir um rastro é algo totalmente não confiável. Ele pode te levar para o lugar errado ou desaparecer do nada te deixando na mão. Além disso, você refaz todos os erros de quem passou por lá. Por isso deve-se fica atento, e ter disposição para um eventual vara-mato.

      Depois de seguir um pouco pela crista e descer ligeiramente a direita, finalmente cheguei a trilha principal. A partir dela foi um “pulo” até o mirante da Fumaça, um lugar incrível de onde pode-se ver toda a queda da cachoeira. O visual é realmente impressionante, e fiquei extasiado com a beleza do lugar, ainda mais com a coluna d’água da fumaça chegando até o poço.

Cachoeira da Fumaça vista do mirante.

      Deixei o mirante por volta das 12h, já era tarde e eu ainda estava andando na direção contrária de Lençóis. Essa parte é um conjunto de lajeados seguidos de pequenos trechos de trilha. Mas como é batido, é infinitas vezes mais fácil do que o trecho anterior. 

      Essa trilha me levaria até a “Fumaça por cima”, porém, em algum ponto eu teria que pegar uma bifurcação em direção ao canyon da Vinte Um. Perceber uma bifurcação no meio do mato é fácil, mas sobre um lajeado é bem mais complicado, e era nisso o que eu pensava o tempo todo. 

      Tendo isso em mente, segui atento, e pouco antes de terminar de atravessar uma laje ligeiramente inclinada, com o canto dos olhos eu vi uma entradinha bem a direita, ufa, me salvei de perder um bom tempo. Através dessa trilha cheguei a um riachinho tímido, que foi ganhando corpo enquanto escorregava grota abaixo. Mais um lugar íngreme, úmido, com muito lodo e sem trilha definida. Fui literalmente deslizando piramba abaixo, no caminho passei por uma pequena cachoeira, no mesmo estilo da Vinte Um.

Pequena cachoeira no caminho.

      Em pouco mais de 1h cheguei ao topo da Vinte Um, fiz um lanche e procurei pela trilha para descer. Encontrei uma a direita, e antes de seguir por ela, verifiquei se não existia alguma outra. Essa trilha seguia bem ao lado do paredão, era relativamente fácil de andar por ela e muito bonita, pois o paredão estava todo encachoeirado. Andei alguns minutos e notei que tinha algo de errado, eu não estava perdendo altitude, e o desnível até o rio estava cada vez maior, no entanto, nada impedia que em algum ponto a trilha começasse a descer e chegar ao rio, por isso continuei. Quanto mais eu andava, mais tinha certeza que não era o caminho correto, o problema era que a trilha não acabava, e eu não tinha visto nenhuma outra opção para descer. Em alguns pontos dessa trilha dava pra ver todo o canyon, e foi aí que eu vi uma nuvem escura e carregada no fim do canyon, que parecia estar vindo na minha direção, isso era como estar num beco sem saída e passar um leão faminto na entrada. Já estava tarde, eu estava longe do destino e na trilha errada, uma tempestade dentro daquele canyon fecharia com chave de ouro a minha cova.

      Diante disso, decidi voltar correndo até o topo da cachoeira e verificar novamente se tinha alguma outra trilha. Assim que cheguei já encontrei a bendita trilha, estrategicamente camuflada e “escondida”. Descer esse trecho foi a parte mais perigosa do trajeto, inclusive, achei até mais perigoso que a “fenda” do canyon da Fumacinha. Na metade da descida, existe uma escadinha amarrada com silvertape, escorregar nessa descida pode ser fatal.

      Após o contratempo, as 15:30h eu cheguei ao poção da Vinte Um, tomei algumas fotos e segui descendo rio abaixo. A trilha para a Vinte Um é pouco utilizada, por isso em alguns pontos ela está quase imperceptível. O tempo todo se alterna entre pula-pedra e pequenas trilhas nas margens.

Cachoeira Vinte Um

      Pouco antes da cachoeira Fundão encontrei um bom lugar para acampar, e seria uma boa opção, já que pelo horário eu só chegaria em Lençóis durante noite. Por outro lado, ainda estava “muito cedo” para parar de andar, e se conseguisse chegar até o ponto que essa trilha conecta com a trilha que vem do Morrão (sair do canyon da Vinte Um) antes de anoitecer, eu poderia me arriscar a fazer o trecho final a luz de lanterna, já que essa trilha deveria ser mais batida. É claro que tudo isso não passava de suposições, já que não conhecia nenhum detalhe da trilha. Como meu cronograma era terminar naquele dia, e minha filosofia costuma ser “antes o duvidoso do que o certo”, decidi tentar.

      Seguindo em frente, chega-se a cachoeira do Fundão, a qual desci sem o menor problema. A partir desse ponto segui o mais rápido possível até o Ribeirão, onde cheguei por volta das 17h. Procurei um bom ponto para atravessá-lo, e chegando do outro lado gastei alguns minutos procurando a trilha. Fiz um lanche e subi até encontrar a trilha "Morrão x Lençóis". Essa trilha segue subindo a sudeste, a fim de contornar a serra do Sobradinho e ir em direção a Lençóis. 

Cachoeira Fundão

      Passei por uma bifurcação antes de cruzar o ponto mais alto e iniciar a descida. Com poucos minutos descendo a serra já dava pra ver as luzes de Lençóis, bem distantes, sinal que ainda tinha um longo caminho pela frente. Com o auxílio da lanterna, desci bem atento para não pegar o caminho errado. A descida foi relativamente tranqüila, apesar de alguma bifurcações.

      E as 20h, depois de 12h de caminhada, enfim cheguei ao centro de Lençóis. Como estava faminto, parei em uma daquelas lanchonetes próximas a ponte e comi demais! Depois disso, voltei para o camping e me instalei por lá.

Dia 21: Cachoeiras Primavera e Cachoeirinha. 

      Nesse dia achei melhor fazer algo mais tranqüilo, pra descansar. Então fui conhecer essas duas cachoeiras mais próximas, Primavera e Cachoeirinha. 
      A trilha começar no alto da cidade, e é bem fácil de achar, já que tem um fluxo grande de pessoas. Com poucos minutos pela trilha já se chega a Cachoeirinha. O lugar é legal, e tem um pequeno poço de águas cristalinas. Mas devido a super lotação, segui em frente a procura da Primavera, que fica ~20mim a frente, por uma trilha ligeiramente íngreme. Essa cachoeira tem a queda mais “potente”, já que a água se concentra em um ponto só, mas não tem poço. Continuei subindo, e logo acima tem alguns poços interessantes para banho, além de um belo visual para a região de Lençóis.

Farofin... digo, Cachoeirinha.

      Não pude ficar muito tempo, pois logo em seguida começou a trovejar com muita intensidade. Estava muito exposto ali no alto da serra, e achei melhor começar a descer. Logo no início da descida já começou a chover. Cheguei na Cachoeirinha e tinham apenas umas 3 pessoas. Como já estava todo molhado, entrei no poço pra curtir um pouco. Depois disso voltei a cidade e fiz os preparativos para a do dia seguinte.

Cachoeira Primavera.
      A cidade de Lençóis é considerada a capital da Chapada, embora Mucugê seja a primeira cidade da região. Pelas ruas, o que mais chama a atenção é sua arquitetura, do fim do século XIX. Devido ao grande fluxo de turistas, lá existe uma infinidade de agências de turismo, pousadas, bares, lojas e lanchonetes, além de lan houses e até mesmo uma loja especializada em artigos de trekking, com marcas e produtos que não se encontra nem mesmo aqui em Belo Horizonte. 

Cidade de Lençóis.






Antonio Junior

6 comentários:

  1. Olá amigo, gostei das fotos, mas vc trocou os nomes. A cacheira do 21 é a de baixo.
    Acesse meu orkut (nadia & jamil). Podemos trocar ideia eu tb faço trilha na chapada desde 1988, sou Geógrafo amo aquele lugar.
    Qualquer coisa estamos ai.
    Meu contatos;
    jbn36neves@hotmail.com, blog odonauta, meu nome Jamil e moro em Salvador,valeu, abraços.

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  2. Olá!
    Jamil, eu tomei como base o mapa "trilhas e caminhos", do Roberto de Mucugê. E segundo esse mapa, a 21 é a de cima. De qualquer forma, obrigado pela informação.
    Vou dar uma passada no seu blog.
    Obrigado pela visita, abraços

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  3. Olá, Antônio.

    Fuçando o google em busca de informações sobre trilhas e acampamentos encontrei o seu blog. Gostei bastante, inclusive. A verdade é que tenho muita vontade em acampar, mas não conheço ninguém que pratique. Você tem conhecimento de algum lugar que role grupos de acampamentos, trilhas para iniciantes (sou muito leiga no assunto, tô até com vergonha haha)? E sou de BH também.

    Obrigada,

    Luisa.

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  4. Olá.

    Luisa, grupos de acampamentos eu não conheço. Mas as vezes eu formo grupos para fazer alguma atividade, como trilhas ou campings, embora que na maioria das vezes as pessoas acabam desistindo. Se quiser saber mais sobre o assunto, deixe algum contato.
    até mais

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  5. Olá! Quero saber mais sim, o meu e-mail é: luisa.ccm@gmail.com

    Até!

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